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A Revolução dos Cravos na transformação do Ensino Superior Português

A revolução dos Cravos ocorreu no dia 25 de Abril de 1974, um dos marcos mais importantes no processo de retomada das liberdades democráticas e civis após o período ditatorial em Portugal. Desde então, a construção de uma nova sociedade portuguesa perpassou principalmente pela transformação do sistema educacional no país, trazendo enormes benefícios às instituições de ensino.

A ditadura salazarista perdurou entre 1926 e 1974, denominando-se Estado Novo, período marcado por um regime autoritário e pela predominância de uma ideologia católica tradicional. Até 1974, uma enorme percentagem da população era analfabeta, e apenas cerca de 5 a 6 % tinha acesso ao Ensino Superior. A evolução do salazarismo deu-se principalmente a partir do estabelecimento de uma Constituição (1933) que vedava diversas formas de liberdade de expressão do povo português, baseada na força do Executivo em detrimento do Parlamento e com ideais fascistas inspirados em outros líderes autoritários do mundo, como Mussolini.

A insatisfação com o período ditatorial, a situação alarmante das guerras coloniais na África – que perduravam 13 anos, somados a crise econômica que assolava o país e a morte de Antônio de Oliveira Salazar culminaram na Revolução, que pôs fim a 41 anos de regime antidemocrático. A canção Grândola, Vila Morena é a marca do movimento, bem como os cravos distribuídos pela população portuguesa e colocados na ponta dos fuzis dos soldados, que enfatizaram o caráter pacífico da Revolução, ocorrida quase sem nenhum derramamento de sangue.

Foto: Ação de distribuição de cravos para conscientização acerca dos direitos humanos realizada pelo projeto Coolaboratório (@coolabora_crl), com a participação de alunos da Universidade da Beira Interior, no dia 25 de Abril de 2022. Fonte: Arquivo Pessoal.

 

A juventude operária estudantil foi essencial no processo de restabelecimento da democracia, e com a retomada dos direitos ocorreu também uma transformação completa dos valores retrógrados que faziam parte do sistema educacional do país à época. Os ditos valores tradicionais, “Deus, Pátria e Família”, eram utilizados por Salazar para legitimar a retirada de direitos e a perpetuação de um ensino básico em massa em detrimento da manutenção dos privilégios de uma parcela pequena da população, a qual era reservada o acesso ao ensino superior e à educação de qualidade.

Após a Revolução dos Cravos, diversas transformações deram seguimento ao processo democrático nas instituições escolares, como a Reforma Educativa de José Veiga Simão (período marcelista, pós-salazar), o alargamento da escolaridade obrigatória para 9 anos e o estabelecimento da Lei de Bases.

 A unificação do ensino, a introdução da educação pré-escolar e, em especial, a mudança radical nos parâmetros e métodos pedagógicos resultaram em uma mudança significativa no ensino-aprendizagem dos alunos portugueses, contribuindo para a igualdade de acesso ao ensino superior. Apenas após esta  Revolução é que a cultura e as artes passaram a ter uma importância maior em Portugal, e hoje os estudantes podem desfrutar da criação de uma infraestrutura ampla que envolve museus, bibliotecas e novas tecnologias aliadas ao ensino no país.

Fonte: Arquivo Pessoal.

 

Texto de opinião: Giovanna Torres

 

 

Referências:

  1. Antena Livre. O 25 de Abril e o Ensino e a Educação em Portugal. Disponível em: https://www.antenalivre.pt/noticias/o-25-de-Abril-e-o-ensino-e-a-educacao-em-portugal.Acesso em: 23 abr. 2023.
  2. IEA, USP. Revolução dos Cravos e União Europeia influenciaram desenvolvimento em Portugal. Disponível em: http://www.iea.usp.br/noticias/revolucao-dos-cravos-e-uniao-europeia-influenciaram-desenvolvimento-da-cultura-portuguesa. Acesso em: 23 abr. 2023.
  3. Joaquim Pintassilgo. O 25 de abril e a educação: discursos de professores em contexto revolucionário. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/29422/1/O%2025%20DE%20ABRIL%20E%20A%20EDUCA%C3%87%C3%83O%20DISCURSOS%20DE%20PROFESSORES%20EM%20CONTEXTO%20REVOLUCION%C3%81RIO.pdf. Acesso em: 23 abr 2023.